Ela não queria ser derrotada por esse traidor dos guardiões. Ele era seu próprio tio! Por que tinha se voltado há tanto tempo contra seus sobrinhos? Os olhos cor de esmeralda de Kyoko voltaram-se para a retaguarda e fixaram o inimigo numa fúria cheia de medo. Isso não podia estar acontecendo! Não depois de tudo o que ela passara. Tudo isso era sua culpa.
Seus olhos se estreitaram encarando Hyakuhei sombriamente. Ela havia trazido o cristal a esse mundo e pretendia tirá-lo dele, nem que tivesse que levá-lo consigo diretamente ao inferno.
Kyou parou a não menos de seis metros e sacou a Hakaisha rapidamente, sua espada de destruição, tomado por uma fúria cega. Não estava gostando do pensamento de seu tio, seu inimigo, tocando a única jovem humana a quem ele tinha aprendido a respeitar. Ela parecia estar tão perigosamente fragilizada nos braços daquele homem enfurecido, a luta agora era da pureza contra a maldade.
O senhor do reino do guardião, Kyou, o mais velho dos cinco irmãos, não podia fazer nada sem ferir Kyoko na tentativa. No seu íntimo, sabia que o Cristal não tinha o poder de feri-lo, porque ele tinha usado um feitiço para bloquear todos os feitiços antes da batalha. Estava preparado para o caso de Hyakuhei tentar usar o Cristal do Coração Guardião.
Mas isso, ele não tinha previsto. Não queria que Kyoko fosse ferida, nunca, não enquanto pudesse evitar.
Ele não lutou quando os fantasmas demoníacos das trevas enviados por Hyakuhei saíram da terra como se vindos de um pesadelo oculto subjugando letalmente seu corpo para imobilizá-lo. Kyou viu Toya e notou a fúria ardente nos olhos prateados de seu irmão mais novo.
Hyakuhei tinha envolvido Toya num ataque violento de fantasmas demoníacos, tentando mantê-lo na trilha, mas Toya ainda lutava vingativo contra eles. No intimo, Kyou agradecia pelas restrições impostas ao seu irmão sem elas Toya certamente atacaria sem olhar as consequências. Vendo Kyoko em tal perigo Toya perdeu a calma.
Kyou podia sentir o poder protetor de Toya ficar mais forte a cada pulsação, juntamente com seu poder e o poder de seus irmãos.
A menos de três metros, o olhar gelado de Kotaro revelava sua surpresa. Ele não queria ver Kyoko machucada, mas não podia fazer nada para evitá-lo. Seus braços sangravam por causa da luta e suas pernas não estavam em melhor estado. Enquanto procurava ficar em pé, sentia-se fraco para revidar, no momento só lutava contra a dor. Ainda estava gelado de medo pela jovem que amava acima de tudo.
Não se atreva a feri-la, ou eu vou de caçar até no inferno, Hyakuhei, Kotaro murmurou com voz rouca e dentes cerrados enquanto seus olhos azuis ardiam pela necessidade de retaliar. O próprio ar à sua volta parecia viver vingança; escombros esvoaçavam em seu entorno por causa da ventania.
Kamui estava assustado, mas ver Kyoko lutando nos braços de Hyakuhei não saia de sua cabeça. Poeira multicolorida brilhava de seu olhar enfurecido. Sem pensar nas consequências, Kamui correu diretamente para Hyakuhei com ferocidade e coragem inconcebíveis vindas de seu amor pela sacerdotisa como todos podiam ver.
Os demônios das sombras que seguiam Hyakuhei o repeliram, golpeando-o com força e lançando-o contra a sujeira no meio de escombros esvoaçantes.
Kaen agarrou Kamui com força, soltando fogo pelos pés enquanto saltava para um ponto seguro sempre zelando pelo guardião mais novo durante a batalha. Com Kamui no chão e fora de perigo, Kaen olhou Hyakuhei com fúria e se pôs entre o jovem guardião e o perigo.
Suki estava de joelhos, ainda amparando o pai em seus braços. Seu pai já sem vida, e agora seu ódio por Hyakuhei fervia dentro dela incitando seu desejo de matar Sennin. Seu olhar agora se fixava em Kyoko, desejando que ela pudesse salvar seu melhor amigo do mesmo destino cruel que aniquilara o sábio ancião.
Shinbe se pôs protetoramente na frente de Suki, bloqueando com seu corpo a visão de Hyakuhei. O vento que vinha da fúria de Kotaro soprava a cabeleira azul meia-noite de Shinbe sobre seu rosto e dava-lhe uma expressão enfeitiçada ao seu familiar olhar ametista. Sua preocupação por Kyoko aumentava enquanto ele sentia o poder do Cristal aumentar.
Não..., a palavra lhe escapou como se o vento o tivesse nocauteado. Shinbe sabia que se Hyakuhei obtivesse pleno poder sobre o cristal do coração guardião, ambos os mundos ficariam sob grande perigo. Lágrimas quentes escorriam pelo seu rosto, enquanto ele sentia o coração partido pelo fato de não poder fazer nada ...Kyoko.
Hyakuhei olhou os inimigos em volta que tinham obstruído seu caminho durante tanto tempo, a própria descendência de seu irmão. Ele sabia que receavam atacá-lo porque mantinha Kyoko como escudo; podia sentir a raiva crescente no entorno de si.
Suas asas cor de ébano se abriram escurecendo sua retaguarda assim como os seus olhos, igualmente escuros, fixavam a jovem em seus braços. Eles procuram protegê-la. Afirmou em voz calma e suave, como se fossem meros espectadores e não estivessem no meio de uma batalha.
Ele podia sentir que o sagrado cristal do coração guardião ainda estava visível no centro de seu peito nu. O amor dela pelos guardiões que lutavam para protegê-la era a única coisa que detinha ainda a penetração completa do cristal no seu corpo e que lhe dava o poder que desejava.
A pureza desse amor era seu poder e ela o usava para afastá-lo do cristal; ele podia senti-lo. Mas também sentia o poder que já corria por suas veias levando-o a querer mais.
Seus olhos suavizaram-se por um momento, enquanto ele sussurrava como se falasse com seu amor. Não é o bastante.
Hyakuhei decidiu que usaria o poder já conquistado do cristal contra Kyoko para destruir o vínculo de amor que envolvia o pequeno grupo. Sabia que tinha de detê-la, porque somente seu poder era tão forte como o cristal que ela outrora levara dentro de si. O mesmo cristal que uma vez permitira que amasse, somente para depois lhe arrancar cruelmente esse amor.
Ele encostou o rosto de Kyoko no seu e lhe beijou os lábios inocentes. Encarando seus tormentosos olhos verdes, usou o poder do cristal do coração guardião para entrar em sua mente.
Hyakuhei pesquisou as lembranças que ela tinha dos guardiões e que lhes eram tão caros; ele os tiraria dela. Ao roubar suas lembranças das pessoas contra quem lutara ele enfraqueceria o poder dela e reforçaria o seu.
Kyoko não podia piscar. Sentiu as garras malignas dele dentro da mente tentando destruir suas memórias, procurando tirar dela o motivo pelo qual lutava. Seus amigos, todos eles, ela não podia consentir.
Kyoko sentiu que perdia o controle e que apenas uma coisa restava para usar contra ele, justamente aquilo que ele tentava tomar para destruir. Seus olhos cintilaram com a raiva não mais reprimida. Ela agarrou sua cabeleira de seda meia-noite com as mãos e encostou sua testa na dele, tremendo com a onda de poder.
Sua voz atravessou o silêncio do campo de batalha quando ela gritou: Você deseja-o tanto assim? TOME AQUI!! Pode levar!
Os olhos dourados de Kyou brilharam intensamente enquanto o medo o atravessava como a lâmina de uma faca aquecida. O que a sacerdotisa está fazendo? Ele sabia que algo estava terrivelmente errado. Sentiu que seus poderes psíquicos estavam se manifestando e insistiam que ele devia atendê-los antes que fosse tarde demais. Resistiu a esse poder e penetrou na mente de Kyoko tentando ver o que acontecia. Ele teria caído de joelhos com o que viu se os demônios das sombras não estivessem tão próximos em torno dele mantendo-o imóvel.
As imagens e sons ficariam gravados para sempre em sua memória visual e Kyou, de alguma forma, sabia que ele nunca seria capaz de se livrar dos sentimentos que o invadiam. Porque compreendeu, quando penetrou na mente dela, que Kyoko tinha guardado sentimentos de amor por ele e pelos seus irmãos. Podia sentir cada toque e emoção acariciá-lo e cada lágrima oculta destruindo-o como se ele fosse ela.