Esses pensamentos seguiram-no no seu sono e nos seus sonhos.
Nos seus sonhos, Kevin estava cercado por todas as pessoas que ele conhecia. A sua mãe, os seus amigos da escola, os seus professores, as pessoas da NASA. Ted estava lá, com equipamento militar pendurado em cima de si, e o Professor Brewster também, com uma expressão carrancuda que sugeria que ele desaprovava tudo o que Kevin havia feito.
Kevin viu as feições deles a contorcerem-se, transformando-se em alienígenas de um filme de ficção científica. Alguns deles ficaram com pele cinzenta e olhos grandes, enquanto outros pareciam-se mais com insetos com placas de armadura a atravessarem-nos. O Professor Brewster tinha tentáculos a saírem das suas mãos, enquanto os olhos da Dra. Levin estavam sobre hastes. Eles arrastaram-se em direção a Kevin e ele começou a correr.
Ele correu pelos corredores do instituto da NASA, mal conseguindo se manter à frente deles enquanto eles apareciam por detrás de cada porta, e mesmo tendo vivido ali, Kevin não conseguia encontrar o caminho de saída para ficar em segurança. Ele não conseguia encontrar o caminho para melhorar isto.
Ele entrou de rompante num laboratório, fechando a porta atrás de si e barricando-a com cadeiras, mesas e qualquer outra coisa que ele conseguisse encontrar. Mesmo assim, do lado de fora da sala, as pessoas transformadas martelavam na porta com os punhos quando, sem nenhum motivo que Kevin entendesse, um alarme começou a soar...
Kevin acordou ofegante. Ainda estava escuro, mas ao olhar para as horas no seu telefone, ele percebeu que era só porque eles estavam debaixo da terra. Ao fundo, um alarme soava, e o seu zumbido abafado era constante, enquanto, por baixo desse som, havia uma batida abafada e metálica.
Ele percebeu que Luna estava acordada, porque ela acendeu as luzes.
“O que é?” Kevin perguntou.
Luna olhou para ele. “Eu acho que... eu acho que alguém quer entrar.”
CAPÍTULO DOIS
Eles correram para o centro de comando e agora que eles estavam mais perto da entrada, o som da batida estava mais alto. Mesmo assim, com a câmara-de-ar no meio do caminho, Kevin ficou impressionado que o som estivesse a chegar. Com o que é que eles estavam a bater na porta?
Luna não parecia impressionada; ela parecia preocupada.
“O que foi?” Kevin perguntou.
“E se forem alienígenas ou pessoas controladas?” ela perguntou. “E se eles estiverem por aí, a reunirem sobreviventes?”
“Porque é que eles fariam isso?” Kevin perguntou, mas o medo se apoderou dele ao pensar nisso. E se eles estivessem? E se eles entrassem?
“Era o que eu faria se eu fosse um alienígena” disse Luna. “Controlar tudo, ter a certeza que não havia mais ninguém para combater. Matar qualquer pessoa que se metesse no caminho.
Não pela primeira vez na sua vida, Kevin jurou nunca ficar no lado oposto ao de Luna. Mesmo assim, ele conseguia ouvir o medo por baixo das palavras dela. Ele também estava com medo. E se eles tivessem fugido para um lugar que parecia seguro, mas que já não era seguro?
“Conseguimos ver quem está lá fora?” Kevin perguntou.
Luna apontou para os ecrãs em branco. “Eles não estão a funcionar desde a noite passada.”
“Mas isso é apenas o sinal do mundo inteiro” insistiu Kevin. “Tem de haver... eu não sei, câmaras de segurança ou algo assim.”
Tinha de haver. Um centro de pesquisa militar não ficaria cego relativamente a tudo o que acontecia à sua volta. Ele começou a pressionar os botões nos sistemas do computador, tentando encontrar uma maneira de fazer com que eles fizessem o que eles queriam. A maioria dos ecrãs estava em branco, com os sinais do mundo inteiro desligados, bloqueados ou simplesmente... desaparecidos. Luna começou a carregar nos botões juntamente com ele, embora Kevin suspeitasse que ela sabia tão pouco o que fazer como ele.
“Quem quer que seja, não sei se o devíamos deixar entrar” disse Luna. “Pode ser qualquer um lá fora.”
“Pode ser” disse Kevin “mas e se for alguém que precisa da nossa ajuda?”
“Talvez” disse Luna, não parecendo convencida. “Quem quer que seja, está a bater na porta com muita força.”
Isso era verdade. Os ecos metálicos de cada golpe reverberavam pelo bunker. Chegavam em grupos de três e, lentamente, Kevin começou a perceber que havia um padrão nos espaços entre eles.
“Três curtos, três longos, três curtos” disse ele.
“Queres dizer SOS?” Luna perguntou.
Kevin olhou para ela.
“Eu pensava que todas as pessoas conheciam isso” disse ela. “Isso é tudo o que eu me lembro.”
“Então alguém lá fora está em apuros?” Kevin perguntou, e ao pensar nisso ficou preocupado de uma forma diferente. Eles deviam estar a ajudar em vez de estarem a hesitar? Ele viu uma foto de uma câmara no canto de um dos ecrãs. Ele pressionou na foto, e agora os ecrãs iluminaram-se com imagens de câmaras de segurança em torno da base deserta.
“Aquela” disse Luna, apontando para uma das imagens como se Kevin não soubesse como selecionar uma de entre as outras. “Deixa-me tentar.”
Ela pressionou um botão e a imagem preencheu o ecrã.
Kevin não sabia o que tinha estado à espera. Uma horda de pessoas controladas pelos alienígenas, talvez. Algum soldado que sabia sobre a base e que tinha lutado para atravessar o país para lá chegar. Não era uma miúda da idade deles, segurando o que pareciam ser os restos de uma placa de sinalização e batendo com ela contra a porta num ritmo constante.
Ela era atlética e tinha cabelos escuros, o cabelo curto e um piercing no nariz, como se a desafiar o mundo a dizer alguma coisa sobre isso. Kevin pôde ver que as suas feições eram bonitas, muito bonitas, ele pensou, mas algo desleixada o que sugeria que ela não apreciaria ser chamada assim. Ela estava a usar um top escuro com capuz e uma jaqueta de couro que parecia um par de tamanhos acima, jeans rasgados e botas de caminhada. Ela tinha uma pequena mochila, como se ela estivesse na montanha apenas para fazer as caminhadas, mas o resto dela parecia mais como se ela fosse uma fugitiva, com as suas roupas suficientemente sujas para ela poder ter andado lá por fora durante semanas antes dos alienígenas chegarem.
“Eu não gosto disso” disse Luna. “Porque é que há apenas uma miúda lá fora, a tentar entrar?”
“Eu não sei” disse Kevin “mas devíamos provavelmente deixá-la entrar.”
Isso fazia sentido, não fazia? Se ela estava a pedir ajuda, então eles deviam pelo menos tentar, não era? A miúda estava a olhar para o ecrã agora, e embora não parecesse haver qualquer som, ela não parecia satisfeita por a estarem a deixar lá fora.
Luna pressionou algo e agora eles conseguiam ouvi-la, com os microfones a captarem as suas palavras.
“… para me deixarem entrar! Ainda há essas coisas aqui fora! Tenho a certeza disso!”
Kevin deu por si a olhar para lá dela no ecrã, e, como era de esperar, ele achava que conseguia distinguir os sinais das pessoas ali, movendo-se com a estranha falta de propósito que sugeria que os alienígenas as controlavam.
“Devíamos deixá-la entrar” disse Kevin. “Não podemos simplesmente deixar alguém lá fora.”
“Ela não está a usar uma máscara” Luna salientou.
“E então?”
Luna abanou a cabeça. “Então, se ela não está a usar uma máscara, porque é que o vapor alienígena não a está a converter? Como é que sabemos que ela não é um deles?”
Como se em resposta a isso, a miúda no ecrã aproximou-se da câmara, olhando para cima diretamente para ela.
“Eu sei que há alguém aí dentro” disse ela. “Eu vi a câmara se mexer. Olhem, eu não sou um deles, sou normal. Olhem para mim!”
Kevin olhou-a nos olhos. Eles eram grandes e castanhos, mas o mais importante, as pupilas eram normais. Não mudando para branco puro como tinha acontecido com os cientistas quando o vapor da rocha os havia reivindicado, ou como os olhos da sua mãe estavam quando ele foi a casa...