Морган Райс - Arena Um: Traficantes De Escravos стр 7.

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Tenho conservado nosso isqueiro utilizando-o com moderação e lhe passando um pouquinho de gasolina da motocicleta a cada algumas semanas. Eu agradeço a Deus todos os dias pela moto de meu pai e sou muito grata que ele tenha enchido seu tanque uma última vez: é a única coisa que possuímos e que me faz crer que ainda temos uma vantagem, que ainda temos algo valioso, um jeito de sobreviver se tudo for para o inferno. Papai sempre manteve a moto na pequena garagem anexada a casa, porém, quando chegamos, após a guerra, a primeira coisa que fiz foi removê-la dali e levá-la até o topo da colina, dentro da floresta, escondendo-a entre os arbustos e galhos e espinhos tão espessos para que ninguém a encontrasse. Eu pensei que, se nossa casa um dia fosse descoberta, a primeira coisa que fariam seria revistar a garagem.

Eu sou extremamente grata que meu pai tenha me ensinado como pilotá-la quando eu era mais nova apesar dos protestos de mamãe. Foi mais difícil de aprender do que a maioria das outras motos devido ao sidecar que ela tem. Eu me lembro de que, aos doze anos eu, aterrorizada, aprendi a conduzi-la com meu pai, que se sentava no sidecar e me dava ordens toda vez que eu deixava o motor morrer. Aprendi nessas estradas íngremes e implacáveis, lembro-me de pensar que iríamos morrer. Recordo-me de olhar para a beira da estrada, vendo a queda e, chorando, insistir que meu pai pilotasse. Mas ele se recusou. Ficou sentado, teimoso, por mais de uma hora até que eu parasse de chorar e tentasse mais uma vez. E, de algum jeito, eu acabei aprendendo. Em resumo, essa foi minha infância.

Eu não me aproximei da moto desde o dia em que eu a escondi, sequer me arrisco a vê-la, a não ser quando eu preciso pegar combustível – e, mesmo assim, só o faço à noite. Imagino que, se um dia a gente estiver em apuros e precisarmos dar o fora daqui o quanto antes, eu colocarei Bree e Sasha no sidecar e levarei todo mundo para longe em segurança. Mas, na realidade, eu não tenho ideia para onde iríamos. De acordo com tudo que já vi e ouvi, o resto do mundo é uma terra devastada, cheia de criminosos violentos, gangues e poucos sobreviventes. Os poucos violentos que sobreviveram se concentraram nas cidades, sequestrando e escravizando quem eles encontram, ou para servirem a eles mesmos ou para participarem dos jogos mortais nas arenas. Acredito que eu e Bree somos uns dos poucos sobreviventes que ainda vivem livremente, por conta própria, fora das cidades. E uns dos poucos que ainda não morreram de fome.

Acendo a vela, Sasha me seguindo enquanto eu caminho lentamente pela casa escura. Suponho que Bree esteja dormindo e isso me preocupa: ela geralmente não dorme tanto assim. Eu paro na frente de sua porta, indecisa se devo acordá-la. Ao parar ali, olho para cima e me assusto com meu próprio reflexo no pequeno espelho. Vejo como estou muito mais velha, como toda vez que me olho no espelho. Meu rosto, magro e anguloso, está corado pelo frio, meu cabelo castanho claro cai sobre meus ombros, emoldurando minha face e meus olhos acinzentados me encaram, como se pertencessem à outra pessoa que eu não reconheço. São severos e penetrantes. Papai sempre me dizia que eu tinha olhos de lobo. Mamãe sempre dizia que eram lindos. Não sabia em quem acreditar.

Eu rapidamente desvio o olhar, não querendo me ver. Estendo minha mão e viro o espelho para que isso não se repita.

Lentamente, eu abro a porta do quarto de Bree. E, no segundo que o faço, Sasha entra e corre para o lado dela, deitando-se e apoiando seu queixo no peito de minha irmã, enquanto lhe lambe o rosto. Nunca deixo de me impressionar o quanto essas suas são unidas; às vezes sinto que são mais unidas do que nós.

Bree abre os olhos devagar e os mantém semicerrados enquanto olha para a escuridão.

“Brooke?” ela pergunta.

“Sou eu,” eu digo, em voz baixa. “Estou em casa.”

Ela se senta e abre um sorriso, seus olhos se iluminam ao me reconhecer. Ela está em um colchão barato no chão, então retira sua fina manta e começa a se levantar, ainda de pijama. Está se movendo mais devagar que o normal.

Eu me abaixo e lhe dou um abraço.

“Tenho uma surpresa para você,” eu falo, mal conseguindo esconder minha ansiedade.

Bree arregala os olhos, então os fecha e estende as mãos abertas, aguardando. Ela é tão confiante, tão otimista, que me impressiona. Estou indecisa sobre o que devo lhe dar primeiro e então me decido pelo chocolate. Coloco a mão em meu bolso, tiro a barra e calmamente a ponho em suas mãos. Ela abre os olhos e olha para baixo, seus olhos semicerrados sob a luz, incerta. Aproximo a vela.

“O que é isso?” ela pergunta.

“Chocolate,” lhe respondo.

Ela me olha como se esperasse por uma pegadinha.

“É sério,” eu falo.

“Mas aonde você conseguiu isso?” ela pergunta, sem entender. Ela olha para baixo como se um asteroide tivesse acabado de aterrissar em suas mãos. Eu não a culpo: não existem mais lojas, nem pessoas por ai, nem nenhum lugar em um raio de cento e sessenta quilômetros aonde eu pudesse encontrar algo assim.

Eu lhe dou um sorriso. “Papai Noel me deu, é para você. É um presente de natal adiantado.”

Ela franze o cenho. “Não, sério,” ela insiste.

Respiro profundamente ao me dar conta de que é hora de lhe contar sobre nossa nova casa, sobre sair daqui amanhã. Eu tento encontrar a melhor forma lhe de dar as novidades. Espero que ela fique tão animada quanto eu – mas, com crianças, nunca se sabe. Uma parte de mim se preocupa que talvez ela sinta-se apegada a este lugar e não queira ir embora.

“Bree, eu tenho grandes notícias para te dar,” eu falo ao me inclinar para baixo e segurar seus ombros. “Eu encontrei um lugar incrível hoje, lá no alto da montanha. É uma casinha de pedra, perfeita para nós. Aconchegante, quente e segura; e tem uma lareira linda, na qual podemos acendê-la tosas as noites. E o melhor de tudo, tem todo o tipo de alimento lá. Como este chocolate.”

Bree olha para o chocolate, estudando-o, e seus olhos se arregalam ainda mais quando ela percebe que é real. Ela cuidadosamente tira a embalagem e sente seu cheiro. Ela fecha seus olhos e sorri e então se aproxima para dar uma mordida – mas, de repente, se detém. Ela olha para mim, preocupada.

“Mas e você?” ela pergunta. “Tem só uma barra?”

Esta é Bree, sempre pensando nos outros, mesmo quando passa fome. “Sua vez primeiro,” eu falo. “Não tem problema”.

Ela empurra a embalagem para trás e dá uma grande mordida. Seu rosto, desamparado de fome, se enche de euforia.

“Mastigue devagar,” eu aviso. “Você não vai querer ter dor de estômago.”

Ela desacelera, apreciando cada mordida. Quebra um pedaço grande e coloca na minha mão. “É sua vez,” ela diz.

Eu lentamente provo o chocolate, pegando uma pequena mordida, deixando-o na ponta de minha língua. Eu lambo e mastigo, saboreando cada momento. O gosto e o cheiro invadem meus sentidos. É provavelmente a melhor coisa que eu já comi.

Sasha protesta, aproximando seu nariz do chocolate e, em seguida, Bree arranca mais um pedaço e dá para ela. Sasha o tira de seus dedos e engole tudo de uma só vez. Bree ri, encantada com ela, como sempre. Então, em uma surpreendente demonstração de autocontrole, Bree embrulha a metade que sobrou da barra, estende as mãos e sabiamente a põe no alto da cômoda, longe do alcance de Sasha. Bree parece fraca, mas posso ver que está mais animada.

“O que é isso?” ela pergunta, apontando para minha cintura.

Por um momento, eu não sei do que ela está falando, mas aí olho para baixo e vejo o ursinho de pelúcia. Com toda essa euforia, eu havia quase esquecido. Eu o alcanço e entrego para ela.

“Encontrei em nossa nova casa,” eu falo. “É para você.”

Os olhos dela se arregalam de emoção quando ela pega o ursinho, e então o abraça em seu peito e o balança para frente e para trás.

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