Lacey saiu do provador. "É perfeito. Eu vou levar. E mais quatro em cores diferentes".
As sobrancelhas da vendedora catapultaram para cima. "Como?"
O celular de Lacey começou a tocar. Ela olhou para a tela e viu o número de Stephen piscando.
Seu coração deu um pulo. Era isso! A ligação que ela estava esperando! A ligação que determinaria seu futuro!
"Eu vou levar", Lacey repetiu para a vendedora, de repente, sem fôlego por causa da expectativa. "E mais quatro em qualquer cor que você achar que fique bem em mim".
A mulher parecia confusa quando se dirigiu para os fundos — para aqueles feios galpões cinzentos de armazenamento, pensou Lacey — para encontrar seus ternos.
Lacey atendeu o celular. "Stephen?"
"Oi, Lacey. Estou aqui com Martha. Gostaria de voltar à loja para conversar?"
Seu tom parecia promissor, e Lacey não pôde deixar de sorrir.
"Com certeza. Eu estarei lá em cinco minutos".
A vendedora voltou com os braços carregados com mais ternos. Lacey notou a paleta de cores impecável: nude, preto, azul-marinho e rosa-pó.
"Você quer experimentá-los?" perguntou ela.
Lacey balançou a cabeça. Ela estava com pressa agora e mal podia esperar para terminar sua compra e correr para a loja lado. Tanto que ficava olhando por cima do ombro para a saída.
"Não. Se eles são iguais a este, confio em você que servirão em mim. Pode concluir a compra, por favor?" Ela falou com pressa. Era literalmente audível que sua paciência estava desaparecendo. "Ah, e eu vou levar este também".
A vendedora parecia não dar a mínima para a forma como Lacey estava tentando apressá-la. Como se quisesse ofendê-la, ela demorou a registrar cada item e dobrá-lo cuidadosamente em papel de seda.
"Espere!" Lacey exclamou, enquanto a mulher pegava uma sacola de papel para colocar as roupas. "Não posso carregar uma sacola de loja. Vou precisar de uma bolsa. Uma boa". Os olhos dela dispararam para a fila de bolsas em uma prateleira atrás da cabeça da mulher. "Você pode escolher uma que combine bem com os ternos?"
Pela expressão da vendedora, você seria perdoado por pensar que ela estava lidando com uma louca. Ainda assim, ela se virou, considerou cada uma das bolsas à venda e pegou uma de couro preta grande, com uma fivela dourada.
"Perfeita", disse Lacey, saltando na ponta dos pés como um corredor esperando o disparo de largada. "Pode registrar".
A mulher fez o que lhe foi ordenado e começou a encher cuidadosamente a bolsa com os ternos.
"Então, isso vai dar..."
"SAPATOS!" Lacey gritou de repente, interrompendo-a. Que cabeça de vento. Foram seus mocassins baratos que a trouxeram para esta loja, em primeiro lugar. "Eu preciso de sapatos!"
A vendedora parecia ainda menos impressionada. Talvez ela tenha pensado que Lacey estava brincando, e que iria fugir no final daquilo tudo.
"Nossos sapatos ficam ali", disse ela friamente, fazendo um gesto com o braço.
Lacey olhou para a pequena seleção de belos saltos-altos que ela usaria na cidade de Nova York, onde considerava os tornozelos doloridos um risco ocupacional. Mas as coisas eram diferentes agora, ela lembrou a si mesma. Não precisava usar calçados que causavam dor.
Seu olhar caiu sobre um par de brogues pretos. Os sapatos complementariam perfeitamente a qualidade andrógina de suas roupas novas. Ela foi diretamente até eles.
"Estes", disse ela, colocando-os no balcão em frente à vendedora.
A mulher nem se deu ao trabalho de perguntar a Lacey se ela queria experimentá-los, então, passou-os pela caixa registradora, tossindo sobre o punho ao ver o preço de quatro dígitos que piscou na tela.
Lacey pegou o cartão, pagou, calçou os sapatos novos, agradeceu à vendedora e foi rapidamente para a loja vazia ao lado. A esperança cresceu em seu peito por estar a poucos minutos de pegar as chaves de Stephen e se tornar vizinha da vendedora blasé da qual acabara de comprar uma identidade totalmente nova.
Quando ela entrou, Stephen pareceu não reconhecê-la.
"Achei que você tinha dito que ela parecia meio desarrumada?" disse, pelo canto da boca, a mulher a seu lado, que devia ser sua esposa Martha. Se ela estava tentando ser discreta, falhou miseravelmente. Lacey pôde ouvir cada palavra.
Lacey apontou para sua roupa. "Tchan-ran! Eu falei que sabia o que estava fazendo", brincou.
Martha olhou para Stephen. "Com o que você estava se preocupando, seu velho tolo? Ela é a resposta para nossas orações! Dê a ela o contrato imediatamente!"
Lacey não podia acreditar. Que sorte. O destino definitivamente interveio.
Stephen apressadamente tirou alguns documentos de sua bolsa e os colocou no balcão em frente a ela. Ao contrário dos papéis do divórcio que ela encarara com descrença, em um momento de tristeza desencarnada, estes papéis pareciam brilhar com promessas, com oportunidades. Ela pegou sua caneta, a mesma que havia assinado a papelada do divórcio, e se comprometeu, assinando o papel.
Lacey Doyle. Dona de loja.
Sua nova vida foi selada.
CAPÍTULO SEIS
Com uma vassoura nas mãos, Lacey varria o assoalho da loja que agora orgulhosamente alugava, com o coração quase explodindo de emoção.
Ela nunca havia se sentido assim antes. Como se estivesse no controle de toda a sua vida, de todo o seu destino e de que o futuro estava em suas mãos. Sua mente corria a mil quilômetros por hora, já formulando alguns planos bem audaciosos. Ela queria transformar a grande sala dos fundos em um espaço para leilões, em homenagem ao sonho que seu pai nunca havia realizado. Ela havia participado de um zilhão de leilões quando trabalhava para Saskia — como compradora, e não como vendedora, ela admitia —, mas estava confiante de que conseguiria aprender o necessário para fazer um leilão. Lacey nunca tinha tido uma loja antes, também, mas aqui estava ela. Além disso, qualquer coisa que vale a pena requer esforço.
Nesse momento, ela viu uma figura que estava passando pela loja parar abruptamente e encará-la pela vitrine. Ela ergueu os olhos da varredura, esperando que fosse Tom, mas percebeu que a figura parada na frente dela era uma mulher. E não apenas uma qualquer, mas uma mulher que Lacey reconheu. Magérrima, vestindo um tubinho preto e com o mesmo cabelo escuro, longo e ondulado de Lacey. Era sua gêmea malvada: a vendedora da porta ao lado.
A mulher entrou abruptamente na loja pela porta da frente destrancada.
"O que você está fazendo aqui?" exigiu.
Lacey apoiou a vassoura no balcão e estendeu a mão para a mulher com confiança. "Eu sou Lacey Doyle. Sua nova vizinha".
A mulher olhou para a mão dela com nojo, como se estivesse coberta de germes. "O quê?"
"Eu sou sua nova vizinha", repetiu Lacey, com o mesmo tom confiante. "Acabei de assinar um contrato de locação deste local."
A mulher parecia ter acabado de levar um tapa na cara. "Mas..." ela murmurou.
"Você é dona da boutique ou só trabalha lá?" perguntou Lacey, tentando fazer a mulher atordoada voltar a si.
Ela assentiu, como se estivesse hipnotizada. "Sou a dona. Meu nome é Taryn. Taryn Maguire". Então, de repente, balançou a cabeça, como se estivesse superando a surpresa, e forçou um sorriso amigável. "Que bom ter uma nova vizinha. É um ótimo espaço, não é? Tenho certeza de que o fato de ser escura também funcionará a seu favor, esconde a falta de cuidado".
Lacey se conteve para não levantar a sobrancelha. Anos lidando com o comportamento passivo-agressivo da mãe a haviam treinado para não se importar.
Taryn riu alto, como se tentasse abafar a crítica velada. "Então, me diga, como conseguiu alugar este lugar? Ouvi dizer que Stephen ia vender".
Lacey apenas deu de ombros. "Ele ia. Mas houve uma mudança de planos".
Taryn parecia ter chupado um limão. Seus olhos dispararam por toda a loja, com o nariz arrebitado que já havia sido apontado para Lacey hoje, parecendo chegar ainda mais longe em direção ao céu enquanto a aversão de Taryn se tornava cada vez mais aparente.