Não admira eu nunca ter realmente aprendido a cozinhar, Lacey pensou. Olha só como eles tornam tudo fácil.
Ela foi até o caixa, pagou pelas mercadorias e depois saiu, pegando Chester na saída. Eles passaram por sua loja – ela notou que Tom estava exatamente onde ela o havia deixado – e pegaram o carro na rua lateral onde Lacey havia estacionado.
Foi uma curta viagem até o Chalé do Penhasco, ao longo da orla marítima e depois ao longo do penhasco. Chester ficou em alerta no banco do passageiro ao seu lado e, quando o carro subiu a colina, o chalé apareceu. Uma sensação de prazer surgiu dentro de Lacey. No chalé, ela realmente se sentia em casa. E, depois da reunião de amanhã com Ivan, ela provavelmente estaria um passo mais perto de se tornar sua dona oficial.
Naquele momento, ela notou o brilho de uma fogueira vindo da direção do chalé de Gina e decidiu passar direto pela sua casa e seguir pelo caminho esburacado de uma trilha até sua vizinha.
Enquanto parava o carro, pôde ver a mulher de pé com suas galochas ao lado do fogo, ao qual estava adicionando folhagem. A fogueira estava muito bonita sob a luz daquele crepúsculo primaveril.
Lacey tocou a buzina do carro e baixou o vidro.
Gina se virou e acenou. "Oiê, Lacey. Você precisa queimar alguma coisa?"
Lacey se inclinou pela janela sobre os cotovelos. "Não. Só queria saber se você precisa de alguma ajuda".
"Você não tem um encontro com Tom hoje à noite?" Gina perguntou.
"Eu tinha", Lacey disse a ela, sentindo aquela estranha mistura de decepção e alívio agitando seu estômago novamente. "Mas ele cancelou. Teve uma emergência na confeitaria".
"Ah", disse Gina. Ela jogou outro galho de árvore na fogueira, levantando faíscas vermelhas, alaranjadas e douradas no ar. "Bem, aqui está tudo sob controle, obrigada. A menos que você tenha alguns marshmallows que queira assar?"
"Droga, não, não tenho. Isso seria legal! E eu acabei de fazer compras no mercado!"
Ela decidiu culpar Martha Stewart e sua receita de cheesecake de baunilha extremamente sensata pela falta de marshmallows.
Lacey estava prestes a desejar boa noite a Gina e voltar com o carro pelo caminho que tinha vindo, quando sentiu Chester cutucando-a com o nariz. Ela se virou e olhou para ele. As sacolas que havia colocado no espaço para os pés dos passageiros se abriram e alguns dos itens haviam caído.
"Isso é uma boa ideia…" disse Lacey. Ela olhou pela janela novamente. "Ei, Gina. Que tal jantarmos juntas? Eu tenho vinho e macarrão. E todos os ingredientes para fazer o autêntico cheesecake nova-iorquino de Martha Stewart, se ficarmos entediadas e precisarmos de uma atividade".
Gina ficou animada. "Só o vinho já me convenceu!" ela exclamou.
Lacey riu. Ela se abaixou para pegar as sacolas de compras e ganhou outra cutucada do nariz úmido de Chester.
"O que é agora?" ela perguntou a ele.
Ele inclinou a cabeça para o lado, seus tufos macios de sobrancelha voando para cima.
"Ah. Entendi", disse Lacey. "Você está provando um argumento, não é, dizendo que deu tudo certo no final? Bem, vou te dar esse crédito".
Ele choramingou.
Ela riu e acariciou a cabeça dele. "Garoto esperto".
Lacey saiu do carro, Chester veio saltando atrás, e seguiram até a casa de Gina, desviando das ovelhas e galinhas espalhadas pelo lugar.
Elas entraram.
"Então, o que aconteceu com Tom?" Gina perguntou enquanto caminhavam ao longo do corredor de teto baixo em direção a sua cozinha rústica.
"Na verdade, foi Paul", explicou Lacey. "Ele misturou as farinhas ou algo assim".
Elas entraram na cozinha bem iluminada e Lacey colocou as sacolas no balcão.
"Já é hora dele despedir esse rapaz, Paul", disse Gina, estalando a língua.
"Ele é um estagiário", disse Lacey. "É normal que cometa erros!"
"Certo. Mas ele deveria aprender com eles. Quantas fornadas de massa ele arruinou até agora? E para impactar nos seus planos, realmente é a gota d’água".
Lacey sorriu com a frase divertida de Gina.
"Sinceramente, está tudo bem", disse ela, tirando todos os itens da sacola. "Eu sou uma mulher independente. Não preciso ver Tom todo dia".
Gina pegou duas taças de vinho e serviu uma para cada, depois começaram a fazer o jantar.
"Você não vai acreditar em quem entrou hoje na minha loja pouco antes da hora de fechar", disse Lacey, enquanto dava uma rápida mexida no macarrão, na panela de água fervente. As instruções diziam que não era necessário mexer durante os quatro minutos de cozimento, mas isso parecia preguiça demais, mesmo para Lacey!
"Não foram os americanos, né?" Gina perguntou, em um tom de repugnância, enquanto colocava o molho de tomate no microondas por dois minutos, para aquecer.
"Sim. Os americanos".
Gina estremeceu. "Oh, céus. O que eles queriam? Deixe-me adivinhar, Daisy queria que Buck lhe comprasse uma joia muito cara?"
Lacey despejou o macarrão em um escorredor e depois o dividiu entre duas tigelas. "Essa é a questão. Daisy realmente queria que Buck lhe comprasse algo. O sextante".
"O sextante?" Gina perguntou, enquanto jogava o molho de tomate em cima do macarrão, sem nenhuma elegância. "Aquele instrumento naval? Para que uma mulher como Daisy ia querer um sextante?"
"Não é? Foi exatamente o que eu pensei!" Lacey falou enquanto polvilhava raspas de queijo parmesão sobre o seu macarrão.
"Talvez ela o tenha escolhido aleatoriamente", Gina refletiu, entregando a Lacey um dos dois garfos que havia pego da gaveta de talheres.
"Ela foi muito específica sobre isso", continuou Lacey, levando a comida e o vinho para a mesa. "Ela queria comprá-lo e, é claro, eu disse que teria que ir ao leilão. Eu pensei que ela desistiria dele, mas não. Disse que estaria lá. Então agora eu tenho que aturar os dois novamente amanhã. Se ao menos eu tivesse guardado aquele negócio em vez de deixá-lo à vista pela vitrine durante o almoço!"
Lacey ergueu os olhos quando Gina se sentou do lado oposto, e notou que sua vizinha subitamente ficou muito perturbada. Ela também não parecia ter nada a acrescentar ao que Lacey havia dito, o que era extremamente incomum para a mulher, normalmente muito falante.
"O que foi?" perguntou Lacey. "O que há de errado?"
"Bem, fui eu quem a convenceu de que fechar a loja para o almoço não faria mal", murmurou Gina. "Mas fez. Porque deu a Daisy a chance de ver o sextante! É minha culpa".
Lacey riu. "Não seja boba. Vamos comer antes que esfrie e todo o nosso esforço seja desperdiçado".
"Espere. Precisamos de mais uma coisa". Gina foi até seus vasos de ervas alinhados no parapeito da janela e pegou algumas folhas de um deles. "Manjericão fresco!" Ela colocou um raminho em cada uma das tigelas de macarrão desajeitado e grudento. "Et voilà!"
Apesar de simples e barata, estava realmente uma refeição muito saborosa. Mas a maioria das refeições prontas são cheias de gordura e açúcar, por isso, tinha que estar!
"Eu sou uma substituta decente o bastante para Tom?" Gina perguntou, enquanto comiam e bebiam vinho.
"Tom quem?" Lacey brincou. "Ah, você acabou de me lembrar! Tom meio que me desafiou a cozinhar uma refeição para ele do zero. Algo típico de Nova York. Então, eu vou fazer cheesecake. Minha mãe me enviou uma receita de Martha Stewart. Quer me ajudar a fazer?"
"Martha Stewart", Gina disse, balançando a cabeça. "Tenho uma receita muito melhor".
Ela foi até o armário e começou a procurar alguma coisa. Então, pegou um livro de receitas surrado.
"Este era o orgulho e a alegria de minha mãe", disse ela, colocando-o na mesa, em frente a Lacey. "Ela colecionou receitas por anos. Tenho recortes aqui que datam do período da guerra".
"Incrível", exclamou Lacey. "Mas como é que você nunca aprendeu a cozinhar, se tinha uma especialista em casa?"
"Porque", Gina disse, "eu estava muito ocupada ajudando meu pai a cultivar vegetais na nossa horta. Eu era a perfeita moleca. A queridinha do papai. Uma daquelas garotas que gostavam de sujar as mãos".