Huo Aderito Francisco - Um Quarto De Lua

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Maria Grazia Gullo - Massimo Longo

Um quarto de Lua

As Sentinelas de Campoverde

Tradução de Adérito Francisco Huó

Copyright © 2018 M.G.Gullo M.Longo

A imagem da capa, as ilustrações e a gráfica foram realizadas e preparadas por Massimo Longo

Tradução de Adérito Francisco Huó

Todos os direitos reservados.

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ISBN-13:

Índice

Prólogo

- Verás que tudo vai correr bem, já és grande Volta a brincar com as outras crianças, nos veremos um dia, te prometo!

A criança reparava desaparecendo lentamente, com os olhos cobertos de lágrimas, aquele que tinha sido o seu companheiro nas brincadeiras se é que a memória não falhe.

Correu rapidamente em direcção dos carrosséis do parque abandonado, onde voltou a brincar com as crianças do bairro, no momento em que a lembrança do seu amigo imaginário desvanecia.

Chegou, entre empurrões, a sua vez ao escorregão. Não esperou um instante e lançou-se no declive com todo o ímpeto possível. Nem sequer teve o tempo de chegar ao fim do declive, eis que viu surgir uma criancinha loira diante dos seus pés, escapada ao controlo da mãe, não conseguiu travar e a antigiu com violência.

A criança perdeu o equilibrio e embateu com a cabeça na saliência em cimento que contornava o escorregão.

Tentou alcançar a criança, para assegurar-se de que não estivesse tão mal, mas foi de tal forma mal recebido pela mãe que corria para socorrê-la. Naquilo que para ele pareceu um ápice, uma multidão de avós e mães aglomeraram-se em volta da mal-aventurada.

Uma única coisa conseguiu ouvir, no momento em que tentava ganhar espaço no meio da floresta de pernas dos adultos:

- Desmaiou! alguém deve chamar o pronto socorro!

Aquela voz ressoava feroz nas orelhas, o medo apoderou-se dele. Correu em direcção do pequeno bosque que se encontrava por detrás do parque.

De repente tudo ficou escuro em volta dele.

Pelo ar um vento gélido trazia consigo sons estranhos, simultaneamente com as palavras ouvidas num instante anterior, começaram a ressoar uns versos que era difícil perceber, chegavam inesperadamente por detrás de um conjunto de árvores onde uma sombra extensa surgia. Depois a voz fez-se cada vez mais insistente, chegava vindo de todas as várias direcções à volta dele. Estava mais próxima no momento, cada vez mais próxima, até sussurrar-lhe nas orelhas:

Damnabilis ies iom, mirdo cavus mirdo, cessa verunt ies iom, mirdo oblivio ement, mors damnabils ies iom, ospes araneus ies iom

Colocou as mãos na cabeça e apertou fortemente os seus tímpanos para não ouvir, mas era tudo inútil, caiu de joelhos, os seus olhos apagaram-se

Damnabilis ies iom, mirdo cavus mirdo, cessa verunt ies iom, mirdo oblivio ement, mors damnabils ies iom, ospes araneus ies iom

Primeiro Capítulo

É tão esquivo quando tento abraçá-lo

- Elio, Elio, rápido! Dê-me uma mão com as sacolas das compras antes que chegue o temporal!

Elio estava imóvel dentro dos seus sapatos sempre novos e reparava a sua mãe a atarefar-se sem trégua.

- Elio! O que estás a fazer aí parado como uma estaca? toma esta! - abanou-o e lhe descarregou entre os braços uma enorme sacola com as verduras.

Elio não tinha a intenção de fazer outra coisa, subiu os degraus externos do prédio e voltando-se de costas empurrou o portão, parou fixando aquela maldita luz vermelha reluzente do elevador, de seguida vencido subiu as escadas até a casa e, colocada a sacola na mesa da cozinha, foi directamente para o seu quarto para escutar música deitado na cama.

O tempo de subir as escadas do prédio e a mãe cansada foi à procura dele.

Debruçou-se à porta do seu quarto gritando: - O que estás a fazer? Ainda não terminamos, venha dar-me uma mão!

- Sim, simestou a vir- respondeu Elio sem mexer uma palha, apenas para livrar-se dela.

Giulia distanciou-se, esperando que desta vez seria diferente. Estava desesperada, não conseguia mais sacudir este filho que tornava-se cada vez mais apático.

A partir da entrada ouviram-se os velozes passos arrojados da sua irmã que o chamava com voz suave: - Elio! Elio! Desgruda o teu traseiro da cama e venhas tu também ajudar a mamã que está a tua espera lá em baixo - gritou com ele sabendo que seria certamente inútil.

Elio não se mexeu e continuou indiferente a olhar fixamente o tecto, depois de ter aumentado o volume do seu leitor.

Giulia, exausta mais pela luta com o filho que pela fadiga, acabou por descarregar as compras juntamente com a filha Gaia. Não fazia outra coisa senão pensar no Elio, enquanto subia as escadas daquele prédio de cinco andares, branco e cor de laranja como todos aqueles do bairro popular de Gialingua onde viviam, e onde o elevador funcionava em dias alternados e, sei lá porquê, nunca naqueles em que se devia levar para cima as compras. Ali viviam vinte famílias, em outros tantos apartamentos que se expunham nos lados opostos.

- Esta é a última vez que te dou a permissão para o fazê-lo! - gritou para ele a partir da cozinha - Quando chegar o teu pai vamos ajustar as coisas!

Elio não a ouvia tão-pouco, mergulhado na música monótona que lhe entrava pelas orelhas sem o envolver emotivamente, nada e ninguém teria abalado o sentido de aborrecimento e paranóia que o circundava. O seu mundo desprovido de interesses o envolvia como uma capa de Linus. Ele era assim e desejava que o mundo se resignasse.

Gaia era muito diferente dele: quinze anos, cabelos curtos e pretos, dois olhos vivose curiosos. As vinte e quatro horas contidas num dia para ela não bastavam para ir atrás de todos os seus interesses.

Também Giulia era dinâmica, diferentemente da filha, a sua cabeleira era loira e encaracolado, tinha ligeiramente um excesso de peso mas ágil e firme, resumidamente, a clássica mãe com os seus quarenta e dois anos sempre repleta de tarefas, divididas entre o trabalho e família.

Tinha chegado a hora do jantar, mas do quarto de Elio não chegava sinais de qualquer género, absoluto silêncio. Realmente, ele não se movera da posição assumida depois de ter-se precipitado na sua cama e ter colocado os auscultadores.

Ouviu-se o rumor das chaves na fechadura da porta principal, naquele mesmo instante, sem dar tempo à porta para abrir-se, a voz alterada e queixosa de Giulia descarregava-se sobre o marido:

- Não podemos continuar desta forma!

- Dá-me o tempo para entrar querida

Giulia beijou o marido e recomeçou naquele momento a queixar-se.

- Outra vez Elio, não é? - perguntou o homem com uma voz resignada.

- Sim, ele! - respondeu Giulia.

Todo este discurso desenrolava enquanto Carlo, depois de ter extraido o recepiente da comida que teria deixado na cozinha, dirigia-se para recolocar no guarda-roupa a pasta que trazia consigo do serviço que continha dentro uma camisa de reserva por causa do calor sufocante que já se fazia sentir ainda que era apenas o fim de maio.

Era um homem sossegado, com mesma idade da mulher, alto e magro, os seus cabelos, já quase completamente grisalhos, um tempo tinham sido pretos asa do corvo como aqueles da filha- Tinha o rosto alongado e escavado nas bochechas, sobre o nariz aquilino assentavam os óculos redondos de metal.

- Não podes contar-me depois do jantar? - pediu carinhosamente à mulher, na tentativa de sossegá-la.

- Tens razão amor - respondeu ela, mas sem dar-se conta continuou a queixar-se até ao início do jantar.

Felizmente estava por perto Gaia, que não cessava de contar a sua jornada, transformando de forma irónica e divertido também os pequenos fracassos.

Tinha apenas terminado de pôr a mesa quando a mâe lhe disse:

- Vai chamar O Elio.

- É inútil - respondeu - sabes que não se move se não for o papá

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