Mas a arma não disparou.
Em vez disso, uma nuvem de vapor azul-esverdeado saiu do cano, inundando os pulmões de Luna com cada respiração. Ela avançou para ele para quebrar a arma no meio, e provavelmente quebrá-lo também, mas a coisa mais estranha aconteceu quando seus braços estavam a meio caminho.
Ela parou.
Em um único momento, ela congelou no lugar, seu coração batendo mais e mais rápido. Sentiu seu mundo inteiro girar.
Luna caiu de joelhos sem querer. Sentiu eles arranhando na calçada, realmente sentiu, e a sensação retornando era como sangue correndo de volta para um braço ou perna adormecido. Doeu e ela gritou.
Não podia acreditar.
Estava de volta.
De volta a si mesma. Não mais controlada.
Ela se cravou em suas memórias, se certificando que ainda estavam lá; que não tinham apenas se perdido para sempre. Pensou no rosto de Kevin, e seus pais como eles eram no primeiro aniversario de que podia lembrar. Soltou um suspiro de alívio, e não só por si mesma. Isso significava que as pessoas que tinham sido transformadas não estavam perdidas.
Queria berrar de alegria. Se levantar e abraçar esse homem e nunca soltar.
Olhou para ele admirada.
Ele sorriu de volta de um jeito curioso, acadêmico.
“Ora,” ele disse, “você parece estar respondendo muito mais rápido do que nos outros sujeitos em que eu tentei. Ah, perdão, e as minhas maneiras? Meu nome é Ignatius Gable. O vapor que você acabou de respirar é a vacina que eu criei para combater os efeitos do controle alienígena. Deve sentir o controle completo do seu corpo retornado. Agora, tenho certeza que têm muitas questões sobre o que está acontecendo, mas não podemos ficar papeando aqui. Então, a não ser que nós dois queiramos morrer de vez, sugiro que venha comigo.”
Ela piscou, surpresa, e seguiu o olhar dele para ver inúmeros controlados se aproximando.
“AGORA!” ele gritou.
Os controlados desceram sobre eles como um enxame. Luna só pode assistir enquanto eles se amontoavam, tentando agarrá-los. Ignatius usou o spray de sua arma, mas para os outros, não parecia funcionar.
Luna saiu correndo, se jogando na multidão e passando pelos espaços vazios com toda vantagem que tinha por ser menor que a maior parte das pessoas ali. Se atirou debaixo de braços e correu por entre pernas, agarrando o braço de Ignatius e segurando forte.
Luna viu Cub, e Bear, e o resto deles, agarrou a arma e se virou.
“O que você está fazendo?” Ignatius gritou alarmado.
Ela espirrou uma nuvem que começou a desacelerar os controlados a sua volta, mirando em Cub e Bear e todo o resto.
“Anda,” ela disse, o dedo preso no gatilho. “Muda!”
Luna viu Cub começar a piscar na luz do sol, esticando as mãos e encarando os dois.
Olhou em volta até ver Bobby nas sombras de um prédio e ergueu a mão para ele.
Então ela se virou com os outros e correu.
E não parou de correr.
CAPÍTULO QUATRO
Kevin se encolheu quando Xan Mais Puro entrou na sala em que ele e Chloe estavam. Ficar lá parado sozinho e esquecido já era ruim o bastante, mas de algum modo ele sabia que não seria tão ruim quanto qualquer coisa que o alien quisesse fazer agora.
“Medo é uma fraqueza,” Xan Mais Puro disse, as palavras saindo um momento depois através do tradutor. “Apenas uma das muitas que superamos.”
“O que quer dizer?” Kevin perguntou. Tentou segurar o medo que sentia também, porque não queria que o alien visse.
Chloe parecia assustada o bastante pelos dois, mas também com raiva. Se a gravidade retorcida não estivesse lá, segurando os dois nas armações, Kevin suspeitava que ela teria atacado o alien.
“Uma vez, fomos seres mais fracos,” Xan Mais Puro disse, gesticulando de forma que uma sessão da parede se transformou em uma tela, mostrando coisas que eram e não eram como os Mais Puros, ao mesmo tempo. Não tinham a pele tão lisa, ou a mesma graça ou aparência de perfeição, e certamente não tinham o senso de implacabilidade fria dos Mais Puros. Pareciam com o tipo de coisa que os Mais Puros podiam ter sido há muito, muito tempo.
“Nós lutamos e guerreamos uns com os outros. Transformamos nosso planeta natal em um lugar praticamente inabitável com as armas que usamos.”
A imagem na tela mudou, exibindo um mundo que começou verde e bonito, apenas para toda vida vegetal murchar e morrer, explosões cascateando pela superfície, fogo e vento se espalhando em ondas do que pareciam ser os corações das cidades.
“Tivemos que nos adaptar.”
“Atacando os mundos de outras pessoas,” Kevin disse. “Nos enganando pra te deixarmos entrar e tomar a mente das pessoas.”
“Vocês são malignos,” Chloe acrescentou. “São todos monstros.”
Xan Mais Puro olhou para eles sem um pingo de emoção. Kevin duvidava que a criatura era capaz de sentir, e de certa forma isso era mais assustador do que se Chloe estivesse certa. Essas criaturas não eram maliciosas, nem cheias de ódio, ou determinadas a destruir tudo que temiam. Agiam de forma tão fria e calma quanto uma geleira passando por uma cidade, sem se importar com as vidas lá dentro.
“Seus mundos não são importantes,” Xan Mais Puro disse. “Vocês não são da Colmeia. Não são dos Mais Puros.”
“Você acha mesmo que são as únicas coisas que importam no universo?” Chloe exigiu.
“Somos os Mais Puros,” Xan retrucou, como se isso explicasse tudo. “Criamos a Colmeia para resolver as guerras do nosso mundo. Ao nos unirmos, aprendemos a nos colocar acima da fraqueza de emoções. Aprendemos dos mundos mais próximos como transformar os inferiores em tudo que precisamos que sejam. Construímos as naves da Colmeia para nos transportar e juntar materiais com os quais regenerar nosso mundo para os Mais Puros.”
“Então você só pega e pega e não dá nada de volta,” Kevin disse.
“Tudo mais é inferior,” Xan Mais Puro disse. “Tudo é nosso.”
“Até a gente te impedir,” Chloe disse, lutando contra a gravidade que a segurava. Se fosse parecida com a gravidade que segurava Kevin no lugar, ele sabia que ela não tinha chance de se livrar, mas imaginou que dizer isso para ela não fosse fazê-la parar. Na verdade, provavelmente ia piorar as coisas.
“Você é fraca. Não pode impedir a Colmeia,” Xan Mais Puro disse.
“Então por que ainda estamos aqui?” Kevin perguntou. “Se acha que somos tão fracos e inúteis, por que não nos matou assim que chegamos na sua... nave?”
“Não destruímos o que é útil,” Xan Mais Puro disse. “Coletamos. É nosso propósito.”
Útil. Kevin não sabia se gostava da ideia de ser útil para um negócio desses. Pelo que tinha visto das criaturas que os aliens consideravam úteis, eles saíam remodelando sua carne, as transformando. Já tinha sentido a dor envolvida só dos aliens examinarem seus pensamentos. As visões que teve do planeta dos aliens foram ainda piores.
“Não quero ser útil pra você,” Kevin disse.
“Não tem escolha,” Xan Mais Puro disse. “Deveria ser grato. Os escolhidos de um planeta são tipicamente destruídos, para que não sejam... uma ameaça para nós. Você sobreviveu porque o permitimos.”
“Por quê?” Kevin insistiu.
Xan Mais Puro não respondeu por alguns momentos. Em vez disso, o alien se movimentou pela sala, ajustando alguns dos maquinários.
“Vão olhar nossos pensamentos de novo, Kevin,” Chloe disse, aterrorizada pela ideia. “Vão usar aqueles tentáculos de novo.”
“Não em você,” Xan Mais Puro disse, quase desdenhoso. “Será intrigante o bastante dissecá-la e remodelá-la. Sua mente é bastante interessante, mas você não é digna de mais.”
“Não pode dissecar a Chloe!” Kevin gritou, lutando contra a gravidade que o prendia. Ela o segurou na armação com facilidade, não importava o quanto lutasse. A pressão o achatava, como um peso pressionado no peito.
“Podemos fazer o que quisermos,” Xan Mais Puro disse. “Se esse é o melhor uso da fêmea para a Colmeia, é o que será feito. Mas seremos generosos. Você poderá escolher o que acontecerá com ela.”