Aquela cena não largava a mente do general que com o copo na mão continuava a fixar o vazio naquela noite quente de Bonobo.
Na manhã seguinte, Ruegra inspeccionou pessoalmente os trabalhos efectuados ara a substituição do módulo destruído pelo asteróide.
Mastigo, tinha seguido os trabalhos perfeitamente e os seus mecânicos como sempre tinham desenvolvido uma excelente obra de reposição. Partiram à hora prevista de volta a casa.
Os dias passaram lentos a bordo e Ruegra tinha uma tamanha pressa de regressar, temendo conspirações, embora o irmão, cujo tinha a quem tinha deixado o comando do planeta na sua ausência, provia assíduas relações perfeitas sobre a situação, que nada deixavam-no a temer. Carimea era um emaranhamento de raças, diferentes tribos rivalizavam aos Anic a supremacia do comando, mas durante enfim do longo domínio de Ruegra, estes tinham eliminado inúmeros opositores. Tinha sido fundada por grupos provenientes de vários sistemas solares, a maior parte deles eram aventureiros a procura da fortuna ou ex detidos à procura de uma pátria onde recomeçar uma nova vida. Apenas uma única parte deles era originário do planeta, estas populações locais tinham sido barbaramente subjugadas e isoladas.
Na via de regresso, sentado na poltrona de comando em coberta, reflectia sobre as palavras de Wof, “o meu pai sabia” continuava e repetir de si para si.
Depois de um instante pensou em como o pai se distanciasse frequentemente nos períodos de caça e naqueles momentos que antecediam a guerra, e como a meta frequentada com maior assiduidade fosse propriamente a terra dos Bonobianos e em particular o Mar do Silencio.
No momento em que estes pensamentos atravessavam a sua mente, foi atingido por uma fulminação “o que me levou a não pensar nisso antes?” Lá devia encontrar algo ou alguém que poderia fornecer-lhe informações sobre o pergaminho. Ligou esta intuição à relação de Mastigo na pequena nave mercantil, talvés alguém o tinha antecipado.
Ordenou uma brusca mudança da rota. Regressava-se de novo a Bonobo.
Mastigo, espantado pelo regresso, acorreu por baixo da nave para antecipar o seu comandante em chefe.
- A minha saudação vai ao mais invencível dos Carimeanos. General, por que este regresso repentino?
- Reflecti sobre a aterragem da naveta mercantil, isto induziu-me para regressar e me ocupar pessoalmente da situação.
- Uma outra vez não estás a cair no erro, visto que os meus informadores não regressavam resolvi dirigir-me ao local. Descobri que tinham sido eliminados pelos estrangeiros.
Ruegra esperou durante um instante, conhecendo os modos do seu Governador, que não tivesse deitado abaixo todas as possibilidades de receber informações.
- Não ficou mais nada ali – referiu de imediato Mastigo, satisfeito como uma criança sádica que tortura as suas presas.
Ruegra conteve-se ao querer saltar em cima do seu interlocutor e questionou que desfecho tivesse tido a tripulação da naveta.
Mastigo, retomou fôlego, sabendo que não estava a dar uma boa notícia.
- Não conseguimos encontrá-los, devem ter fugido.
- Não só desfez todas as provas, deixou fugir o comando! Foste um incompetente! Leva-me ao local!
Depois, pensando que não fosse o caso de dar a saber a Mastigo o que estivesse à procura, se corresse:
- Prepara uma equipa, partirei sem ti.
Segundo Capítulo
Por cima das suas cabeças pendia uma espada de rocha
- Fiquemos preparados, poderíamos não receber flores à nossa chegada! – Exclamou Oalif, o mais engraçado do grupo.
Este era composto por quatro expoentes dos planetas que se opunham ao domínio de Carimea, escolhidos pela sua história e as suas capacidades psico-físicas. Juntos formavam uma equipa capaz de afrontar qualquer missão, seja sob o ponto de vista físico como estratégico. A sua tarefa era aquela de defender a paz, não apenas militarmente, mas também através de acções de inteligência e de coordenação entre os povos.
O conselho da coligação dos Quatro planetas os tinha condecorado pelo título de Tetramir, em virtude do qual lhes foram reconhecidas, pelos vários governos, autoridades e funções especiais até à conclusão do seu objectivo.
A naveta comercial atravessava os grandes anéis cinzentos de Bonobo e dirigia-se para o Mar do Silêncio.
As navetas deste tipo, projectadas para o transporte de mercadorias, tinham a forma de paralelepípedo com a parte frontal embotada para dar um mínimo de aerodinâmica e das pequenas asas dobráveis assim que necessário para sair da atmosfera. Atrás, um enorme portaló, que se abria como uma flor em três partes, servia para o carregamento e descarga das mercadorias. Lentas embaraçantes, aterravam e descolavam perpendicularmente no solo, sem a necessidade de espaço para a manobra, como todas as outras navetas.
- Identifiquem-se – chegou do rádio a voz metálica das sentinelas do planeta.
- Somos mercantes, senhor - respondeu Oalif.
- Vejamos, mas quem e o que se encontra a bordo? Vocês têm a licença?
- Sétimo de Oria, senhor.
- Número da licença! – Insistiu a sentinela.
- 34876.
- Não constam na nossa lista, mudem imediatamente a rota, nenhuma permissão de aterragem naquela zona.
- O sinal está fraco senhor, não o oiço, número da licença 34876 - repetiu Oalif fingindo de não estar a ouvir.
- Permissão de aterragem naquela zona recusada!
- Não recebemos senhor – insistiu o Bonobiano e depois dirigindo-se aos membros da tripulação – estamos dentro gente! Estamos a atravessar o nevoeiro do Mar do Silêcio!
Piloto de grande experiência e grande conhecedor do planeta natal, Oalif era um Bonobiano, mas não entrava nos cânones de simplicidade e brandura usualmente atribuídos à esta raça. A sua tribo de pertença não se tinha por acaso curvado aos Anic e por isso tinha pagado um preço altíssimo. Durante a última grande guerra, perdeu o controlo do planeta, tinham sido forçados ao exílio e, hospedados pelos planetas da coligação, organizavam a rebelião interna para a reconquista do planeta.
O corpo de Oalif estava recoberto por pelos pretos que deixavam vislumbrar a pele clara, o contorno dos olhos verdes e as maçãs-do-rosto eram lisas, tinha uma barba espessa que terminava pontiaguda no peito, os cabelos compridos e recolhidos em forma de rabo na nunca.
Oalif era perfeito para esta missão mas infelizmente deveria permanecer a bordo para não atrair olhares indiscretos. Era com efeito procurado, o seu rosto era conhecido e não sabiam quem e o que o grupo teria encontrado.
A naveta aterrou numa verdíssima clareira assolada atravessada por um enorme rio das águas baixas e transparentes que deixavam vislumbrar a profundidade composta por uma grande variedade de rochas com cores vivas, como um quadro impressionista.
- A melhor forma para esconder algo é à luz do dia, Oalif assim que descemos activa os painéis de camuflagem e obrigado… Foste magnífico – felicitou Ulica o Eumenide.
- É incrível este lugar, o nevoeiro que o circunda uma vez dentro evapora e os raios de KIC 8462852 aquecem como em pleno verão – chamou a atenção assim que esteve fora da naveta Zàira de Oria.
- Despachemo-nos, temos pouco tempo para achar um refúgio antes de anoitecer, Mastigo não nos vai dar muito tempo para encontrar o mosteiro – ordenou Xam do Sexto Planeta, quarto componente do grupo.
- Avancemos ao longo do rio – propôs Zàira – a floresta que o circunda cobrir-nos-á enquanto avaliamos o melhor percurso.
Entranharam-se na vegetação, Xam e Zàira abriam caminho enquanto Ulica avaliava a direcção por seguir para alcançar uma aldeia Bonobiana onde contavam em restaurar-se e encontrar informações sobre o mosteiro de Nativ, o alvo deles.